Tenho a ligeiríssima impressão que já li algo sobre isto.
Não sei onde nem quando, nem que abordagem seguiu o seu
autor, de quem não me lembro, mas uma coisa é certa: a conclusão, embora
escrita por outras palavras, era idêntica.
Temos um povo bem-educado. Na praia.
O ano passa devagar e mal-humorado, cheio de problemas e
irritações.
Filas no trânsito, buzinadelas, bichas interminavelmente
longas e esguias, palavrões, toques, empurrões mal disfarçados e chatices,
muitas chatices.
Depois chega o verão e o povo, aos magotes, vai à praia.
E chegado à praia, transfigura-se.
Acreditem.
Façam a experiência: vão à praia e levem uma bola.
Joguem à bola e deixem-na, voluntária ou involuntariamente,
escapar.
Garanto-vos que à vossa volta está um povo com forte queda
para apanha-bolas.
Simpáticos, sorridentes e orgulhosos apanha-bolas.
Gente que num pequeno momento, incha de orgulho e enquanto
devolve e não devolve a bola, transparece nas faces uma expressão de “vê o quão
simpático, solidário, sorridente e bem-educado eu sou?”.
E segue a sua vida, embora sempre pronto a dar mais um
passinho ou dois, desviando-se mesmo do caminho inicialmente traçado, para
devolver a bola uma segunda vez e desta, acrescentando um ar de compreensão
superior.
Isto passa-se na praia.
É pena que o que se passa na praia, fique apenas pela praia.
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