quarta-feira, 10 de julho de 2013

Crónica do "é o que há"

Silva chegou à sala e disse (depois de muito falar):
- Rapazes, vão ter que brincar juntos durante um ano!
Os três rapazes da primeira fila escancaram as bocas em silencioso uníssono, enquanto os 10 milhões (exagero, é certo) que actualmente constituem a sombra do que já foram, irromperam num burburinho de exclamações envergonhadas, sendo que pelo meio foi possível descortinar uma série de interjeições e atoardas que não irei aqui (e agora) relatar.
Antes de qualquer outra reacção da parte dos rapazes, Silva reforçou:
- É só um ano. Nem precisam brincar, mas ao menos vão ter que fingir! É só até às visitas irem embora!
- Viste o que fizeste? Viste? – disse Coelho, olhando indignadíssimo para Portas.
- Eu já disse que só brinco sozinho! - advertiu, quase ao mesmo tempo, Seguro.
- Mas nós arranjámos um arranjinho arranjável! – bradou Portas, após ter rosnado baixinho um “logo agora que eu tinha conseguido, à força, convencer o outro…”.
- Eu não volto atrás: já disse que só brinco sozinho, porque é sozinho que eu sei que sei brincar! – insistiu Seguro.
- Oh homem, faz como eu: não voltava atrás, não voltava atrás e vê lá tu bem onde estou (ou pelo menos julgava que estava)! – aconselhou Portas a Seguro.
- E eu que ganhei isto há dois anos, como é que fico? Com estes dois às costas? Parece impossível! – rugiu Coelho (estranha imagem esta, um coelho a rugir).
- Não brinco, já disse – sentenciou Seguro – quero ver agora o que é que o senhor Silva faz! Não brinco, não brinco e não brinco! Em conjunto, nem pensar!
- Vocês não me apertem - disse Silva, meio em jeito de ameaça, meio em jeito de não saber o que dizer mais…
- Como estavam, não ficam, porque desataram às demissões. Como propuseram, não ficam porque agora quem não quer, sou eu. E como queria Seguro, também não quero, porque não. Agora, ou é como eu quero ou…
- Ou? – indagaram os três rapazes numa voz só.
- Ou?
- Ou o quê? – perguntou Silva.
- Hummm, onde é que eu ia, mesmo? – disse, com arpejos senis…