Silva chegou à sala e disse (depois de muito falar):
- Rapazes, vão ter que brincar juntos durante um ano!
Os três rapazes da primeira fila escancaram as bocas em silencioso
uníssono, enquanto os 10 milhões (exagero, é certo) que actualmente constituem
a sombra do que já foram, irromperam num burburinho de exclamações
envergonhadas, sendo que pelo meio foi possível descortinar uma série de interjeições
e atoardas que não irei aqui (e agora) relatar.
Antes de qualquer outra reacção da parte dos rapazes, Silva reforçou:
- É só um ano. Nem precisam brincar, mas ao menos vão ter que
fingir! É só até às visitas irem embora!
- Viste o que fizeste? Viste? – disse Coelho, olhando indignadíssimo
para Portas.
- Eu já disse que só brinco sozinho! - advertiu, quase ao
mesmo tempo, Seguro.
- Mas nós arranjámos um arranjinho arranjável! – bradou Portas,
após ter rosnado baixinho um “logo agora que eu tinha conseguido, à força, convencer
o outro…”.
- Eu não volto atrás: já disse que só brinco sozinho, porque
é sozinho que eu sei que sei brincar! – insistiu Seguro.
- Oh homem, faz como eu: não voltava atrás, não voltava
atrás e vê lá tu bem onde estou (ou pelo menos julgava que estava)! –
aconselhou Portas a Seguro.
- E eu que ganhei isto há dois anos, como é que fico? Com
estes dois às costas? Parece impossível! – rugiu Coelho (estranha imagem esta,
um coelho a rugir).
- Não brinco, já disse – sentenciou Seguro – quero ver agora
o que é que o senhor Silva faz! Não brinco, não brinco e não brinco! Em
conjunto, nem pensar!
- Vocês não me apertem - disse Silva, meio em jeito de
ameaça, meio em jeito de não saber o que dizer mais…
- Como estavam, não ficam, porque desataram às demissões.
Como propuseram, não ficam porque agora quem não quer, sou eu. E como queria
Seguro, também não quero, porque não. Agora, ou é como eu quero ou…
- Ou? – indagaram os três rapazes numa voz só.
- Ou?
- Ou o quê? – perguntou Silva.
- Hummm, onde é que eu ia, mesmo? – disse, com arpejos senis…
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