sábado, 27 de outubro de 2012

Do alto do meu metro e trinta e seis


Um dia, espreitei para o mar, do cimo de uma encosta com mais de 300 metros.
Senti-me minúsculo.
Experimentei um nível de adrenalina que até então não conhecia.
Não sei, ao certo, que idade tinha.
Sei que era um miúdo.
10 anos?
Não sei.
Com 10 anos, tinha um metro e trinta e seis centímetros de altura.
Minorca.
Hoje tenho um metro e setenta e dois (ou três, dependendo das dores nas costas e no pescoço, causados pelos prolapsos numas tais de vértebras “C” não sei das quantas que tenho nesta coluna que me faz andar na vertical).
Quando me debrucei da tal encosta, atirei pedras que junto a mim eram enormes e que ao cair, foram ficando mais pequenas e mais pequenas ainda, até se transformarem num pontinho branco, lá em baixo, no mar azul dos Açores, aquele azul que até fere quem olha para ele sem saber ao que vai.
Debrucei-me várias vezes no “parapeito” dessa tal encosta.
Sempre com vontade de ali estar, sempre inquieto para olhar lá para baixo.
Era um miúdo.
Hoje em dia, do alto da idade que tenho e dos medos acumulados por ter quase 40 anos, dou por mim, inúmeras vezes, deitado na cama a olhar para o tecto e a pensar “que sorte tive eu: a encosta não desabou”.
Penso nisso muitas vezes, talvez vezes demais.
Incomoda-me, aliás, pensar nisso tão amiúde.
Mas penso.
E tenho saudades do meu metro e trinta e seis.

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