“Que cena estúpida, essa da reflexão” dizia há dias um amigo meu.
“Concordo plenamente” respondi.
Acho que a reflexão chega a ter laivos de salazarismo.
E é fácil explicar porquê: lembro-me bem quando, 5 ou 6 anos após do 25 de Abril de 1974, os meus pais saíam de casa sozinhos, normalmente à tarde, para irem fazer uma coisa que eu na altura não percebia porque tinham de fazer sozinhos: votar.
Votar exigia um secretismo escabroso, naquele tempo. Pelo menos as pessoas pensavam assim. E os meus pais não eram propriamente das pessoas mais “mal informadas”.
Lembro-me do dia de reflexão antes das eleições, como aquele dia em que era “estritamente proibido” falar em partidos. As pessoas tinham mesmo medo.
Lembro-me ainda de, em anos posteriores, acompanhar os meus pais até ao local de voto (Ginásio do Externato Cunha da Silveira) e ficar à porta porque “tu não podes entrar”.
Porque, se bem que já não houvesse medo, ainda havia muito receio.
Lembro-me das poses “institucionais” e das figuras daquela “época”.
Lembro-me das pessoas fazerem um esforço enorme para não falarem nas eleições e muito menos em partidos, no caminho até à urna de voto.
Lembro-me de ouvir que era “proibido” falar sobre partidos ou votos. Mas a mais de 500 metros da urna, o assunto já deixava de ser proibido. Isto continua assim, não continua?
Ridículo, não é? Pois é. Actualmente é completamente ridículo.
Por isso acho que a Comissão Nacional de Eleições ou a Lei Eleitoral é parecida com a igreja católica: pararam no tempo: estão estupidamente ultrapassadas.
O “dia de reflexão” que na altura em que foi criado servia para que não falassem mal do “gajo” que foi mais falado nesta campanha eleitoral a nível nacional (SALAZAR) servia precisamente para que não fosse possível falar mal do “gajo”.
Por isso, o dia de reflexão não é estúpido: é estupidamente estúpido.
sábado, 26 de setembro de 2009
Reflexão sobre a "reflexão"
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1 comentários:
Não é proibido falar em partidos ou em política no dia de reflexão.
E acho que, apesar de tudo, serve em parte para acalmar os ânimos de campanhas duras e agressivas, como muitas vezes temos.
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