Por várias vezes, comentei em vários blogues, a questão da avaliação dos professores.
Longe de ser especialista na matéria ou ter pretensões a tal, não deixo de ter opinião formada acerca da aplicação da avaliação.
E ontem encontrei na revista Sábado, um excelente artigo sobre a matéria e que traduz precisamente o que penso sobre o assunto. Por isso, tomei a liberdade de o copiar (já que a revista não tem edição online) e publicá-lo aqui, sendo que os bold são da minha responsabilidade.
"O exemplo de Beiriz
Beiriz tem 4,31 km quadrados e 3223 habitantes. Está longe de ser um centro de excelência, um pólo de desenvolvimento ou um grande exemplo de modernidade. É antes uma pequena e perdida freguesia da Póvoa do Varzim. Mas Beiriz tem também uma das poucas escolas do País onde, entre manifestações de 120 mil professores, ameaças de boicote e avisos de greve nacionais, se faz calmamente, e dentro dos prazos, a avaliação dos professores prevista pelo Ministério da Educação.
Ali a avaliação não obriga a uma burocracia infindável, a reuniões pela noite dentro, a um esforço sobre-humano. Ali a avaliação não afecta a qualidade das aulas, o rendimento dos alunos ou a boa vontade dos professores. Ali a escola fecha às 18h30 e, segundo a directora, ninguém fica depois da hora. A EB 2-3 de Beiriz é um milagre? Nem por isso. Simplesmente, funciona.
Segundo a directora, numa entrevista ao jornal Público, “é a nossa cultura de escola que leva a que estejamos nesta avaliação de forma pacífica”. E que cultura é essa? É uma cultura rara em Portugal. Há vários anos que a escola de Beiriz pratica a auto-avaliação, mesmo não sendo obrigatória. Os professores estabelecem objectivos, cumprem-nos e, quando precisam, pedem a colegas que os ajudem a dar as aulas às turmas “mais tumultuosas”.
Em vez de perderem tempo em passeatas revindicativas e boicotes organizados pelos sindicatos, ali trabalha-se. Quando recebeu as regras da avaliação estabelecidas pelo ministério, a directora da escola de Beiriz tratou de olhar seriamente para os papéis, ver onde podia cortar a burocracia e tornar um processo demasiado complexo num esquema mais eficaz. O que é impraticável em todo o País é possível em Beiriz. Os professores de Educação Tecnológica avaliam os professores de Educação Física, preenchem as fichas que têm de preencher, dão as aulas que precisam de dar e ainda têm tempo de promover iniciativas tecnológicas, ecológicas ou empreendedoras. A escola tem um protocolo assinado com a Universidade Católica, uma rádio interna feita pelos alunos nos intervalos, projectos de teatro e uma padaria, onde os estudantes fabricam o pão que consomem no bar. Nada disto é obrigatório, mas tudo isto é louvável.
Beiriz não é a prova de que a avaliação dos professores proposta pelo Ministério da Educação é perfeita. Não é. É burocrática, pesada e, em alguns aspectos, errada. Mas é. Existe e é melhor existir com defeitos do que não ter avaliação. Para os sindicatos, a guerra é a contrária: mais vale não ter avaliação, nem que para isso se acabe com a escola. No início, o problema era os pais avaliarem os professores. O ministério acabou com isso, mas não foi suficiente. Depois, era a questão das diferenças de escola para escola. O ministério deu autonomia, mas não foi suficiente. Agora, é o excesso de burocracia. O ministério diz que acaba com as toneladas de papéis para preencher, mas também não chega. O boicote sindical só acabará quando acabar a avaliação. É a típica alergia a mudar, a inovar, a trabalhar.
Em Beiriz os professores trabalham com gosto, os alunos interessam-se e os resultados são bons. Em Beiriz faz-se. E isso é raro em Portugal.
A Direcção"
sábado, 22 de novembro de 2008
Era precisamente isto
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