Nunca percebi esta mania ou pancada (ou panca, para alguns) de se morrer de “doença prolongada”.
Uma pessoa morre com sida, que não é propriamente uma doença, mas sim a falta de defesas para salvaguardar o corpo de uma doenciopédia, morre de ataque cardíaco, enfarte, acidente vascular cerebral, morre de susto, de insuficiência cardíaca, respiratória, cancro, leucemia, neuroblastoma, hepatite alfabeticamente identificável, morre de amor, sufocado no orgulho próprio, morre de tédio, de gripe A,etc., etc., etc..
Por estas e por outras (doenças) não percebo esta mania de, nas televisões, rádios e jornais, dizer-se que fulano morreu de “doença prolongada”.
Actualmente, quem nas televisões, rádios e jornais morre de “doença prolongada”, morre cá para nós, de cancro.
Sendo certo que não conheço estatística que o prove, ponho a mão no fogo (eu não disse de quem seria a mão).
E eu, sinceramente não percebo, que pruridos alguém pode ter, actualmente, num mundo cancerosamente cancerígeno, em dizer que alguém morreu de cancro. Cancro disto, cancro daquilo, espalhado até ali ou até tudo quanto era sítio, cancro fatal. Morreu. De cancro. Morreu.
Esta atitude das televisões, rádios e jornais era até compreensível quando se começou a morrer de cancro. Ou melhor, quando se soube que os cancros existiam e matavam.
Nessa altura, o cancro, quase como a sida (digo eu, pelo menos tenho essa ideia) era sinónimo de uma vida de excessos e asneiras sucessivas.
Mas...hoje em dia, continua a ser essa, a ideia?
Às tantas é. E eu não sei.
Isto de se morrer de “doença prolongada” é quase tão mau como morrer-se de “doença súbita”.
Antes não morrer.