quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

Lembro-me (I)

Há coisas de que me lembro com regularidade e alguma frequência. Sem razão aparente. Mas que vão aparecendo, de vez em quando.

Lembro-me de não haver diferença (praticamente) nenhuma entre ricos, remediados e pobres, na escola, em São Jorge. Isto naquilo que era o 7º, 8º ou 9º ano, que frequentei.
Lembro-me de que nessa altura, a riqueza estava acima de tudo na lavoura, até porque a ilha não tinha indústria. Eram os “do campo” quem tinha maior riqueza. E esses, não sei se correctamente, sempre me pareceram mais humildes.
Lembro-me de já em São Miguel, começar a notar as primeiras grandes diferenças entre ricos e “não-ricos”, na escola.
Lembro-me sobretudo de um pequeno grupo de alunos (e alunas) mais velhos do que deveriam ser, para o ano que frequentavam. Um grupo fechado, com protecções várias e repelentes diversos, à entrada de outros alunos.
Lembro-me de ter achado muito estranho aquele tipo de comportamento, aquele afastamento de todos os outros, aquele ar superior.
Cruzei-me muitas e falei algumas vezes com eles, em grupo ou isoladamente. E continuei a achar estranho.
Parecia que nada os atingia, nada os perturbava, a não ser o grupo, aquele grupo. O resto parecia não existir.
Lembro-me de, uns anos mais tarde, vir a saber que um dos elementos do grupo (por sinal, a rapariga mais bonita de todas) tinha morrido. Com quê? 19? 20? 21? Disso não me lembro. Mas lembro-me que morreu muito nova.
Encontrei (mais de uma dezena de) anos mais tarde, um dos membros desse grupo. Por sinal, outra rapariga. A grande amiga da rapariga que morreu. Pareceu-me velha, embora seja pouco mais velha que eu. Mais do que isso, pareceu-me “gasta”. Não falei com ela, mas vi-a falar com outra pessoa. Pareceu-me desiludida e bastante triste. Não apenas com o momento actual. Mas com a vida toda.
Fez-me confusão.
Deu-me que pensar.
E continua a dar.

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