quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Coisas que o GACS não "publicita"

Sim, porque o GACS é, acima de tudo, uma agência de publicidade do Governo Regional.
Na ausência do GACS, faço eu o título da notícia:
"Electricidade vai subir nos Açores mais do que no resto do país" ou:
"Subida da electricidade nos Açores vai ser superior à do Continente e da Madeira" ou
"ERSE indica aumento da electricidade acima da média para os Açores" ou
"Preço da electricidade vai subir muito acima da inflação nos Açores" ou
"Açores batem recorde no aumento dos preços da electricidade" ou
"Apaguem as luzes que isto está a ficar feio nos Açores" ou
outra coisa qualquer.

A média nacional de aumento indicada pela ERSE é de 4,9%.
Para os Açores, a ERSE, meiga como é, aponta para uma subida de 5,5%.
Aguente-se quem puder.

4 comentários:

Francisco disse...

Senhor H.Blayer, se leu e percebeu as 26 páginas do CI (Comunicado de Imprensa da ERSE), certamente não teria escrito este texto, já que:

1º Os 4,9% do Continente não são directamente comparáveis com os 5,5% dos Açores, pois, conforme se vê nos quadros da pág.13 do CI, no Continente incluem a MAT e AT, que não existem nos Açores;

2º A comparação só poderá, assim, ser feita entre níveis de tensão que são comuns (MT e BT, e, dentro desta, BTE e BTN), pelo que se verifica que, na MT e na BTE, os crescimentos propostos são superiores no Continente. Nos Açores, apenas se propõe um crescimento superior a nível da BTN, onde se situam os consumos da IP (Iluminação Pública), historicamente com preços muito inferiores aos do Continente e da Madeira e que, obviamente, terão de tender a ser iguais em todo o território, de acordo com o princípio da convergência tarifária;

3ºOs preços da IP nos Açores, em 2009, ficarão ainda inferiores em 19% aos do Continente (81% dos mesmos, conforme se pode ver no quadro da pág. 21 do CI), pelo que, de modo a que a convergência se mantenha nos 100% em termos globais na MT e na BT, há alguns clientes que irão pagar mais cerca de 1 a 2% (mesmo quadro da pág. 21);

4º Ainda na pág. 21, no quadro que está no final da mesma, pode ver como seria se não existisse o princípio da convergência tarifária assumido em 1998: teriamos de pagar, em média, mais 64,7%, em vez dos 5,5% que a ERSE propõe para 2009.

Por tudo isto (e muito mais que o espaço não me permite desenvolver aqui), é incorrecto o que pretendeu transmitir.

Cumprimentos,

Unknown disse...

Caríssimo Francisco:
Agradeço o seu esclarecimento.
Se leu o meu post, certamente não teria escrito todo este texto, uma vez que eu falo em "média" de aumento.
Média é média. Nada mais que isso.
Para além disso, considero uma falácia dizer-se que continuamos com tarifas inferiores às do continente em "X" por cento.
Ora, esse argumento faz-me lembrar o argumento sistematicamente utilizado pelo governo regional para dizer que os combustíveis derivados do petróleo são "X" por cento mais baratos nos Açores, quando comparados com o continente. Sendo realidade, também é verdade que o "X" já foi bem maior e eu continuo a considerar (esta é meramente uma consideração pessoal, uma opinião muito própria) que os açorianos devem continuar a beneficiar de algumas medidas que sirvam de "atenuantes" face ao custo elevadíssimo da insularidade. E ao esgrimir esse tipo de argumento, o governo opta por tentar fazer ver ao comum dos mortais, que já paga imenso por viver nos Açores, que o preço disto ou daquilo é mais baixo cá do que lá, simplesmente porque o governo quer. O Governo, seja ela qual for, não está cá para fazer favores. Está cá para fazer com que as condições de vida sejam as melhores, dentro das possibilidades do mesmo. Com isenção e honestidade. E esse é, obviamente, um campo em que eu neste momento, abstenho-me de comentar, por razões óbvias.
Com tudo isto, quero dizer-lhe que não concordo minimamente quando diz que os preços "terão de tender a ser iguais em todo o território" devido ao princípio da convergência tarifária.
É que o que serve para umas coisas, não serve para outras. Não vejo convergência tarifária nos combustíveis derivados do petróleo e muito menos, no tabaco (que não é propriamente um combustível).

Francisco disse...

Caro H.Blayer,
Só agora voltei aqui e li a sua resposta. Desculpe-me a franqueza, mas continua completamente equivocado nas considerações que faz sobre os preços da energia eléctrica, quer em termos matemáticos, quer em termos técnicos.

1º Uma "média" para ser comparável com uma outra "média", como fez, deve ser obtida no mesmo universo, o que não é o caso, como expliquei no comentário anterior;

2º No sector eléctrico, ao contrário dos que se passa nos combustíveis ou no tabaco, há legislação da República, extremamente benéfica para os Açores e para a Madeira, que consignou o princípio da convergência tarifária (preços idênticos no Continente, Açores e Madeira);

3º O benefício para nós, açorianos, de tal medida é de tal ordem que, como também já escrevi no comentário anterior, se não existisse a convergência tarifária pagariamos, em média geral, mais 64,7% do que vamos pagar em 2009 e, acrescento agora, estariamos a pagar mais 76,9% em 2008 e teríamos pago mais 90,5% em 2007 (a redução destes valores ao longo dos anos resulta da melhoria da eficiência do nosso sector eléctrico);

4º Mas, obviamente, não podemos querer ter sol na eira e chuva nas couves, pelo que, para que todos os açorianos possam beneficiar desses preços altamente subsidiados (pelos consumidores do Continente), a situação que herdamos de preços da IP (Iluminação Pública), artificialmente baixíssimos e insustentáveis, está a ser corrigida pela ERSE de modo muito suave.

Cumprimentos,

Unknown disse...

Caríssimo Francisco, agradeço o seu esclarecimento :)