O gajo que faz os horários dos comboios é cá dos meus.
Pronto, actualmente não será um gajo, mas de início era de
certeza e foi ele, garantidamente, quem instituiu o hábito e a regra que diz
“cá nos horários dos comboios não há essas mariquices das horas redondas, dos
zero, cinco, dez ou quinze minutos”.
Instituída a regra (por este herói desconhecido, incógnito
ser de grande bravura, estou certo), aplicada ao longo de tantos anos com
comboios e sem computadores, é mais do que óbvio que a era da informática nada
poderia alterar nesta matéria, sob pena de motivar violenta e justa rebelião de
desfecho difícil de imaginar.
E pronto, chegámos aos dias de hoje, onde raramente vemos
alguém dar a devida e merecida utilização aos minutos (são tantos) que vivem
entre os redondos e anafados zeros e cincos (tão poucos) do nosso tempo.
A excepção (não digo que única) vive nos horários dos
comboios.
Quem compra um bilhete para as 17:14 acaba por dar conta de
que nunca ou muito raramente lhe atribui alguma importância (ao 14, claro).
E quem fala no 14, fala no 52 e nos outros todos.
Menos, claro, nos zeros e cincos.
Deviam dar mais importância a estes minutos afiadinhos.
Vivê-los mais e melhor.
Falar mais deles, sugeri-los como horários para encontros,
conversas, vidas.
Das boas.